Brasil quer afastar EUA da mediação da crise Colômbia-Venezuela
O Brasil quer retirar a crise Colômbia-Venezuela do âmbito da OEA (Organização dos Estados Americanos) e trazer para a Unasul (União de Nações Sul-Americanas), órgão do qual os Estados Unidos não são membros. A ideia, afirma reportagem de Eliane Cantanhêde e Fábio Amato na edição desta sexta-feira na Folha de S. Paulo, é evitar que a participação americana desequilibre as negociações para pró-Colômbia e anti-Venezuela.
A crise foi causada pelo anúncio nesta quinta-feira do presidente venezuelano, Hugo Chávez, do rompimento das relações diplomáticas com a Colômbia, depois que essa levou à OEA provas de que haveria ao menos 87 acampamentos e 1.500 guerrilheiros colombianos em território venezuelano.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva telefonou horas depois para Chávez, propondo a troca. Após a conversa, Chávez anunciou que pediu ao Equador (que ocupa a Presidência da Unasul) uma reunião de emergência.
O Brasil, afirma a reportagem, acha melhor convocar a Unasul após a posse do novo presidente colombiano, Juan Manuel Santos, no próximo dia 7. Apesar de ser sucessor do popular Uribe, Santos adotou um discurso de aproximação com Caracas e, diante da crise, disse que manteria o silêncio como "sua melhor contribuição'.
Para o embaixador brasileiro na Colômbia, Valdemar Carneiro Leão, a troca "cria um clima mais propício". Os embaixadores da região que servem em Caracas e Bogotá já trocam telefonemas para garantir a reunião.
Nesta quinta, Chávez disse esperar que o novo presidente colombiano não esteja envolvido na atual rixa entre os dois países.
"Espero que tome algumas medidas racionais no assunto porque acredito que já uma loucura desatada no palácio de Nariño", disse Chávez, ao entrar na sede do governo venezuelano, ao lado do técnico da seleção argentina, Diego Maradona.
Durante a campanha eleitoral colombiana, Chávez chegou a alertar que a vitória do ex-ministro de Defesa e sucessor de Uribe podia gerar uma guerra e que seria extremamente difícil restabelecer as relações bilaterais sob seu governo.
Santos, contudo, adotou um discurso de reaproximação e diálogo e chegou a minimizar as acusações de Uribe sobre os vínculos entre Chávez e as Farc. O venezuelano mudou de tom e disse que espera retomar as conversações com o país vizinho depois da posse de Santos. Ele afirmou que não irá na posse por questões de segurança.
APROVAÇÃO
O Conselho de Defesa da Nação, órgão máximo de aconselhamento para segurança e defesa da Venezuela, aprovou na noite desta quinta-feira em reunião "extraordinária" a ruptura dos laços com a Colômbia.
Na reunião, convocada pelo Executivo venezuelano, estavam presentes o vice-presidente Elías Jaua, o chanceler Nicolás Maduro, o ministro de Defesa Carlos Mata Figueroa, e a promotora-geral Luisa Ortega, entre outras autoridades, segundo imagens da TV oficial VTV.
CORTE INTERNACIONAL
O procurador-geral da Colômbia, Guillermo Mendoza Diago, afirmou a possibilidade de denunciar a Venezuela à Corte Penal Internacional (CPI) por supostamente abrigar guerrilheiros das Farc e do ELN em seu território.
"Se conseguirmos estabelecer isso, e temos informação de que os guerrilheiros se refugiam na Venezuela e as autoridades não fazem nada, e pelo contrários os apoiam, pois então poderíamos já consolidar o que vai ser a denúncia para a Corte Penal Internacional", disse ele.
Ele disse ter recebido das mãos do governo colombiano uma pasta em que estão documentados ao menos 60 ataques cometidos por guerrilheiros das Farc contra moradores colombianos e depois refugiados na Venezuela.
Ele participou de uma reunião chefiado pelo presidente colombiano, Álvaro Uribe, junto com seus ministros, chefes militares e da polícia.
Até o momento, o governo de Uribe não se pronunciou oficialmente sobre a decisão de Chávez.
CAUTELA
Santos, que deve tomar posse em 7 de agosto, lembrou que "o presidente Álvaro Uribe é ainda o presidente em exercício".
Já o seu vice, Angelino Garzón, afirmou que o novo governo fará "todo o possível" para restabelecer as relações diplomáticas com a Venezuela. "Faremos todo o possível e utilizaremos todos os amigos que temos em diferentes países do mundo e buscaremos todos os mecanismos diplomáticos para melhorar e fortalecer as relações com os países da região, incluindo a Venezuela", disse Garzón, que está em visita a Quito, no Equador.
O porta-voz da atual Presidência colombiana, César Velásquez, informou que "qualquer comunicação" oficial sobre o assunto será centralizada no embaixador do país na OEA, Luis Alfonso Hoyos, e da representante nos EUA, Carolina Barco. Hoyos criticou o rompimento como "um erro histórico" e "imoral".
Três semanas antes de deixar o governo da Colômbia, o presidente Álvaro Uribe agravou a crise diplomática com a Venezuela ao denunciar que Caracas esconde guerrilheiros em seu território.
ALERTA E EXPULSÃO
O governo de Hugo Chávez anunciou que os diplomatas da nação vizinha terão 72 horas para deixarem o país. O chanceler venezuelano, Nicolás Maduro, confirmou que após este período a representação colombiana deverá ser fechada.
Já a decisão venezuelana de colocar as fronteiras em "alerta máximo" deve-se ao risco de que o Uribe, "movido por seu ódio contra a Venezuela", opte por uma ação militar contra Caracas, enfatizou Chávez.
As declarações de Chávez foram feitas em rede nacional de televisão, ao lado do técnico da seleção de futebol argentina Diego Maradona, que está em visita à capital da Venezuela. Maradona disse que "isso não é culpa dos colombianos", segundo o jornal colombiano "El Tiempo".
Segundo o porta-voz do governo de Bogotá, o país não pretende "agora" militarizar os mais de 2.000 quilômetros de fronteira que mantém com a Venezuela, que por sua vez já colocou em alerta suas forças na região. "Da parte da Colômbia, sempre haverá fraternidade", disse Velásquez, segundo o jornal venezuelano "El Universal".
REAÇÕES
O assessor da Presidência para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, em declarações à imprensa brasileira, lamentou a decisão venezuelana. Garcia também confirmou que Lula telefonou aos outros dois mandatários para discutir o assunto e que o Brasil tentará mediar o impasse.
"Conversei com Lula e ele está preocupado com isso. O secretário-geral da União das Nações Sul-Americanas (Unasul), Néstor Kirchner, também me ligou; todos estão incomodados com essa decisão lamentável que tive que tomar, mas não me restava outra alternativa", declarou o presidente Chávez.
O Departamento de Estado americano reagiu nesta quinta-feira em defesa da Colômbia e com críticas à Venezuela. "Não é uma boa forma de atuar", disse o porta-voz da diplomacia americana, P.J.Crowley, ao comentar o assunto, pronunciando-se favoravelmente ao grande aliado de Washington na América do Sul.
O secretário-geral da OEA (Organização dos Estados Americanos), José Miguel Insulza, pediu que os países "acalmem os ânimos". Ele afirmou que a OEA "estará sempre disposta" a cooperar, mas alertou que "os passos devem ser dados pelos governos" de Caracas e Bogotá.
ACUSAÇÃO
Nesta quinta-feira, em sessão extraordinária da OEA (Organização dos Estados Americanos), a Colômbia exibiu fotos, vídeos e testemunhos que provariam a presença de ao menos 87 acampamentos e 1.500 guerrilheiros protegidos em solo venezuelano.
O embaixador da Colômbia no órgão, Luis Alfonso Hoyos, afirmou que os acampamentos não são novos "e continuam se consolidando".
"Não são [apenas] casas. São ao menos 87 estruturas completamente armadas em território venezuelano".
Em seu discurso, que também contou com fotos e imagens aéreas, Hoyos se concentrou nas informações sobre quatro localidades, que abrigariam os acampamentos nomeados Ernesto, Berta, Bolivariano e Jesus Santrich, situados 23 quilômetros para dentro do território venezuelano.
A Venezuela negou nesta quinta-feira as acusações e alegou que as fotos aéreas mostradas como provas foram tiradas em território colombiano.
"Uma das imagens onde se mostra Pablito em uma suposta praia venezuelana, a cor da areia me faz pensar que é mais parecida com a praia de Santa Marta [na Colômbia], grata cidade porque foi onde morreu nosso libertador. Além disso, a cor do céu e das flores são muito parecidas e isso pode ser tanto na Colômbia quanto na Venezuela", defendeu o embaixador venezuelano na OEA, Roy Chaderton.
Fonte de informação: Bol Notícias Internacional
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