Canibalismo: um crime que chocou o país
Jorge Negromonte, apontado como 'o cabeça' do trio contou, em livro, como cometia os crimes.
Foto: Wenyson Albiérgio/Especial para o NE1/Correspondência Buíque da Gente.
Por Diego Martinelly
A prisão de duas mulheres e um homem em Garanhuns, no Agreste
Meridional, com cartões de créditos roubados parecia ser mais uma
quadrilha que se aproveitava da inocência das vítimas para aplicar
golpes em lojas do comércio. Recursos como imagens de circuitos internos
de estabelecimentos ajudaram a polícia a localizar o grupo. Esse tipo
de crime é tão comum hoje em dia que logo que a informação chegou às
redações dos veículos de comunicação o fato não passava de mais uma
notícia policial que seria mostrada naquele dia.
O tempo foi passando e logo se descobre que o grupo liderado por
Jorge Negromonte, sua esposa Isabel Cristina e a amante Bruna Oliveira
matava mulheres e depois esquartejava as vítimas para aplicar o golpe.
As coisas começaram a mudar e aquela informação que seria apenas
divulgada no interior passou a repercutir em todo o Estado.
Uma criança ajudou a polícia a localizar os corpos, que eram
enterrados dentro da casa de Jorge Negromonte. O delegado que investiga o
caso descobriu que a menina era filha de uma das primeiras vítimas dos
cruéis matadores, que, após matarem a mulher de nome Jéssica em Rio
Doce, na cidade de Olinda, passaram a usar sua identidade e seus cartões
de crédito.
A mídia nacional se interessa pelo caso e os investigadores passam a
tratar aquele caso como prioridade. Novos delegados são destinados pela
Secretaria de Defesa Social (SDS) para a investigação e o que ninguém
esperava de três seres humanos, aparentemente “meros” ladrões de
cartões, terminou vindo à tona com a revelação de que o grupo comia as
carnes das vítimas e chegava até a vender salgados com carnes humanas na
cidade de Garanhuns.
Aí começou aquela busca incessante da mídia para tentar entender o
que se passava na mente dos canibais pernambucanos, que agora já faziam
parte das páginas policiais dos grandes veículos de comunicação do
mundo.
As perguntas não paravam de surgir entre os jornalistas e as pessoas
que acompanhavam o caso. Que tipo de doença faz com que seres humanos
expressem tamanha brutalidade e desejos sanguinários? Estavam possuídos
por espíritos maléficos quando cometeram os crimes ou sentiam só a
necessidade de matar com intuito de virarem os símbolos do mal aqui na
terra? Toda essa investigação me faz recordar o jornalista Truman
Capote, que na década de 1960, nos Estados Unidos, resolveu investigar
um crime, só que analisando o porquê daquele episódio estar acontecendo e
o motivo que levou os assassinos a cometerem o crime. Começava a surgir
o New Jornalism, uma forma de escrever mais aprofundada, aprimorando as
técnicas até então utilizadas nos textos jornalísticos da época.
Para responder aos questionamentos da população e dos profissionais
que estão cobrindo o crime de Garanhuns surgem os especialistas médicos,
que logo cuidaram de explicar cientificamente que não se tem doença
alguma que faça a pessoa usar de tanta perversidade e crueldade como
aconteceu neste caso.
A verdade é que não estamos preparados para lidar com estas pessoas que nós mesmos humilhamos, damos não e excluímos do convívio social. Estas pedras colocadas por nós não seriam motivo para a concretização de tudo que foi feito, mas contribuíram para o desequilíbrio de uma mente que carrega consigo o ódio, a maldade e a inveja. O assassino e sua esposa já receberam acompanhamentos de psicólogos e assistentes sociais no Centro de Atenção Psicossocial (Caps) de Garanhuns.
Até filmes de terror e livros narrando os crimes Jorge Negromonte
tinha produzido e registrado em cartório. Alguns profissionais do Caps
tinham o conhecimento disso, mas não se preocuparam e nem passou pela
cabeça deles que ali estava um matador frio e calculista.
Foi pelo tempo da varíola e da doença de chagas que nossos avós
passaram. Agora está chegando a doença dos países considerados potências
econômicas. Lá se pensa no carro do filho, no tablet da filha e se
esquecem de cuidar dos princípios da família. O resultado é este aí que
já estamos presenciando: matadores de crianças, gangues que espancam
negros e homossexuais. Que esta tragédia sirva de lição e que nos atente
a enxergar além do muro das nossas casas.
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