Justiça confirma que jovem foi preso e amigo, assassinado por um crime que não cometeram.
Acabou parte do tormento para Diego Pereira Cruz, 19 anos, e para a família de José Alex Soares da Silva. Confundidos com assaltantes de um posto de gasolina, eles foram espancados no dia 10 de janeiro em outro posto, ambos localizados na BR-428, em Petrolina, no Sertão do Estado. José Alex morreu em decorrência das agressões. Diego passou 39 dias preso mas, hoje, ouviu, em audiência realizada do Fórum Doutor Manoel Souza Filho, que estava inocentado das acusações. “Vou seguir minha vida normal. Estava ansioso, mas tranquilo. Agora eu quero que paguem pelo que fizeram com a gente”, declarou.
O veredito do juiz Edilson Moura, da 1ª Vara Criminal de Petrolina, não apaga as memórias da tortura que diz ter sofrido, inclusive dentro da delegacia da cidade, mas ajuda amenizar a dor da perda do amigo e a injustiça que começou a ser reparada nesta quinta-feira. As contradições presentes no processo foram o que mais chamou a atenção do magistrado. “Se você pensar direito, não faz muito sentido. Em regra, ninguém tira o capacete para realizar um assalto. Muito menos para, sem capacete, entrar em um local a menos de dois mil metros do local do crime. É ilógico”, avalia. Também contou a favor dos rapazes o fato da arma e dos produtos roubados nunca terem sido encontrados.
O próprio Ministério Público, através do promotor Lauriney Lopes, alegou que não havia provas suficientes para alegar que os rapazes eram culpados do assalto. Além disso, ele afirma que não foi necessário reconstituir o crime para elucidar as contradições. “O inquérito do delegado da Homicídios (Jean Rockfeller) foi anexado nos últimos instantes ao processo e, nele, fica claro que os verdadeiros assaltantes ainda estão livres para realizar novos crimes”, afirma.
De acordo com o promotor, embora garantam ter seguido a dupla, as testemunhas não sabiam a placa da moto que perseguiam e não conseguiam explicar se o veículo que entrou numa estrada vicinal da BR-428, durante a fuga, era o mesmo que saiu em outro ponto da BR, quando a perseguição recomeçou. "Se as testemunhas afirmam ter seguido os assaltantes até o posto onde ocorreu o espancamento, porque eles não estavam com o que supostamente roubaram?", questiona. Durante a audiência desta quinta-feira, uma das testemunhas chegou a discordar de outros depoimentos sobre quem pilotava a moto.
Caso - Na polícia, eles contaram que voltavam de um jogo de futebol na região do N-11, também em Petrolina. Diego relatou que ele o amigo pararam no posto de gasolina Paizão para abastecer. A dona do posto Umburuçu, que havia sido assaltado momentos antes, Maria Claudenice da Silva, 38 anos, teria chegado ao local acompanhada de três funcionários dela (Nilton César Ribeiro, Eliomar do Nascimento Lopes e Adriano Roberto da Silva) acusado José Alex e Diego. Os funcionários e mais uma das vítimas do assalto, o bombeiro Gracenildo Rodrigues dos Santos, 34 anos, teriam iniciado a agressão contra os jovens e só pararam com a chegada da polícia. Todos foram indiciados por lesão corporal seguida de morte e o bombeiro, por homicídio, em inquérito entregue à Justiça na última terça-feira. O caso tem ainda um sexto envolvido, que não foi indiciado por ser menor de 18 anos. Uma cópia do inquérito será encaminhada à Vara da Infância e da Juventude para que a culpabilidade do adolescente seja verificada.
Quando Diego e José Alex chegaram à delegacia, um novo capítulo da trágica história começou. Diego Cruz conta que foi espancado por policiais dentro da unidade policial e que o amigo também apanhou muito até ser levado para o Hospital de Traumas de Petrolina, onde morreu três dias depois. As denúncias de tortura são alvo de outro inquérito policial, que foi aberto ontem, e que tem três policiais civis - de nomes não revelados - como suspeitos de comandarem a barbárie.
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