Édson Arantes do Nascimento, Pelé, o Rei do Futebol
Conheça aqui um pouco da História de uma das maiores lendas vivas do futebol brasileiro.
Conheça aqui um pouco da História de uma das maiores lendas vivas do futebol brasileiro.
Neste sábado dia 23 de outubro o grande rei, a lenda viva da história do futebol completa 70 anos.
Às vezes parecia flutuar, como Friedenreich, desviando-se do emaranhado de chuteiras inimigas com graça e suavidade, até colocar a bola fora do alcance do goleiro; em outras, vigoroso, retesava os músculos nas divididas, rompia a defesa contrária na força, atirava-se ao ar na busca acrobática do gol, como Leônidas; e em outras ainda era o idealizador de toda a jogada, tabelando com os companheiros e aparecendo na área para cabeçadas certeiras, como Zizinho. Pelé reuniu todas as qualidades dos grandes atacantes e dianteiros brasileiros e, por ter bebido de fonte tão prodigiosa, acabou se tornando o jogador mais completo do futebol.
O saudoso jornalista e historiador Thomaz Mazzoni, vai mais longe. Para ele, Pelé concentra as qualidades dos ?maiores malabaristas e artilheiros do mundo?, que ele viu jogar em 40 anos de crônica esportiva e várias Copas do Mundo. ?Pelé, repito, tem tudo desses campeões. Pelé é a síntese?, definiu Mazzoni.
Primeiro filho homem do meia-armador João Ramos do Nascimento, o Dondinho, Pelé nasceu dia 23 de outubro de 1940, numa velha casa de Três Corações, sul de Minas Gerais. O pai era um craque sem sorte, que logo na estréia no Atlético Mineiro teve um choque com o zagueiro e machucou seriamente o joelho direito. Com o fim do sonho de jogar em um time grande, Dondinho passou a atuar em equipes da região, mudando-se com a família de acordo com as oportunidades. Assim foi parar em Bauru, onde o Bauru Atlético Clube lhe prometia um emprego público.
Lá o pequeno Édson iniciou suas aventuras com as bolas de meia, que levava escondido para as aulas no Grupo Escolar Ernesto Monte. Em casa dona Celeste, sua mãe, o chamava de Dico, mas na rua desde os quatro anos já era conhecido por Pelé ? por pronunciar errado o nome de Bilé, goleiro do Vasco da Gama de São Lourenço. Com 10 anos ele e os amigos criaram o time descalço do Sete de Setembro. Depois jogou no Ameriquinha, seu primeiro time de chuteiras, e em seguida veio o infantil do Baquinho, mesmo clube onde seu pai jogava na equipe principal.
O Baquinho era treinado por Waldemar de Brito, considerado um dos melhores atacantes brasileiros entre 1935 e 45, titular da Seleção na Copa de 1934. Técnico, criativo, ótimo cabeceador, Waldemar de Brito jogou tão bem na armação como no comando do ataque. Ele e Dondinho, que tinha características parecidas, exerceram forte influência em Pelé no tempo em que o futuro Rei do Futebol jogou no Baquinho. Quando Waldemar, interessado em um emprego público na beira da praia, ofereceu Pelé ao deputado Athiê Jorge Cury, presidente do Santos, o garoto tinha apenas 15 anos, mas sua técnica já era completa.
Dondinho o havia ensinado a cabecear com os olhos abertos e insistiu tanto para que treinasse chutes com o pé esquerdo, que estes passaram a ser mais fortes do que com o direito. Pelé era rápido ? tão rápido que após os primeiros treinos no Santos foi apelidado de ?Gasolina? ? ; podia carregar a bola e driblar em velocidade; finalizava tão bem de longe, como de dentro da área; driblava para os dois lados; cabeceava magnificamente; tinha um controle de bola, com destaque para a matada de peito, fenomenal; podia voltar ao meio de campo e vir com a bola dominada, driblando ou tabelando; era corajoso, ?não fugia do pau?; protegia a bola como ninguém; fazia perfeitamente qualquer jogada, mesmo a difícil bicicleta.
Com tantos atributos, e ainda com a sorte de jogar no Santos ? bicampeão paulista em 1955/56, um dos times mais técnicos do País, com jogadores como Zito, Tite, Urubatão, Vasconcelos, Pagão ?, logo Pelé teve a sua oportunidade na Seleção Brasileira, na qual estreou aos 16 anos, marcando o gol na derrota para a Argentina por 2 a 1. Três dias depois o Brasil venceu o mesmo adversário por 2 a 0 e ele voltou a fazer o seu.
No ano seguinte, 1957, foi artilheiro do Campeonato Paulista, proeza que conseguiria 11 vezes, dez delas consecutivamente. No ano seguinte marcou 58 gols no Estadual, um recorde que permanece. A eficiência de Pelé ? e do ataque santista, formado por Dorval, Mengálvio, Coutinho, ele e Pepe ? obrigou os técnicos a criarem sistemas táticos mais defensivos. Do 4-2-4, que sucedeu o 2-3-5, veio o 4-3-3, que ficava nítido quando o Santos enfrentava o Botafogo de Garrincha e Zagallo recuava para ajudar o meio-campo. Posteriormente, para dar maior proteção à defesa contra Pelé, surgiu o cabeça-de-área.
Com 17 anos, como havia prometido ao seu pai ? ao vê-lo chorar, ao lado do rádio, após a derrota do Brasil em 50 ?, sagrou-se campeão do mundo na Suécia, marcando gols decisivos contra País de Gales, França e Suécia. A partir daí, só um livro contaria sua história, que foi enriquecida por mais quatro títulos mundiais (dois pela Seleção, dois pelo Santos), duas Taças Libertadores, seis títulos nacionais e dez paulistas. Jogou no Santos de 1956 a 74 e no Cosmos, de Nova York, de 74 a 77.
É o maior artilheiro da história do futebol, com 1.279 gols. Para vê-lo jogar, guerras eram interrompidas, feriados foram decretados e árbitros foram expulsos. Algumas histórias de Pelé sobrevivem, indefinidas, entre a lenda e a realidade. Em 1980 jornalistas do mundo inteiro o escolheram o Atleta do Século. Ainda hoje, 27 anos depois de ter parado, é o jogador de futebol mais conhecido no planeta.
Coincidência ou não, Pelé surgiu em um período de otimismo na vida brasileira. O presidente eleito da República, o também mineiro Juscelino Kubitschek de Oliveira, que governou de 31/01/1956 a 31/01/1961, lançou a política desenvolvimentista cujo slogan era ?50 anos em 5?: Lançou as bases da indústria automobilística, incentivou a siderurgia, a hidrelétrica e a indústria naval e construiu Brasília. Seu governo compreendeu também um período de ouro para o esporte do País, com o título mundial no futebol em 1958, a liderança de Maria Esther Bueno no tênis, o título mundial do basquete masculino (1959) e a ascensão do pugilista Éder Jofre, campeão mundial dos galos.
O futebol brasileiro viveu uma fase excepcional. O título na Suécia abriu as portas do mercado internacional para muitas equipes, que passaram a excursionar regularmente. Ainda livre do assédio dos clubes europeus, ídolos consagrados faziam toda a carreira em times brasileiros, como Pelé, Garrincha, Nilton Santos, Canhoteiro, Gilmar, Vavá, Zito, Coutinho, Pepe, Pagão… Pelé foi o maior de todos e, entre tantas proezas, deu à camisa 10 o poder de assinalar o craque da equipe. Depois dele, notáveis camisas 10, como Roberto Rivelino, reinaram no nosso futebol. O mais destacado, porém, era apenas um garoto pálido e mirrado do subúrbio carioca quando Pelé começou a abandonar o futebol.
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