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segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

DISCURSO DO PRESIDENTE LULA EM SUA VINDA À CIDADE DO BUÍQUE EM 2003





16:04:38 26/4/2003




Buíque - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva discursou em Buíque (PE), ao lançar o programa Conviver. Leia abaixo a íntegra do discurso.



"Meus companheiros e companheiras do meu querido Estado de Pernambuco,



Meus companheiros e companheiras dessa região extraordinária do Nordeste,



E meus companheiros e companheiras da cidade de Buíque, das cidades vizinhas e de Arcoverde, Eu quero, primeiro, dizer para vocês uma coisa importante.



Nós estamos há menos de 4 meses no Governo. E nós já sabíamos, antes das eleições, a situação em que o Brasil se encontrava. É por isso que tomei como decisão não ficar chorando o leite derramado ou criticando o meu antecessor.



E resolvi que, na medida em que tenho apenas 4 anos de mandato, eu não tenho tempo de ficar criticando ninguém. Eu tenho que trabalhar 4 anos para poder cumprir cada palavra que assumi durante toda a minha vida política. Eu sei que preciso do apoio dos Governadores de Estado.



E quero aqui, de público, dizer que o Governador Jarbas Vasconcelos deu uma contribuição extraordinária quando, a meu convite, foi a Brasília para, junto com outros 26 Governadores, assumir o compromisso de ajudar na elaboração da Reforma da Previdência e da Reforma Tributária.



E sei que outras reformas terão que acontecer no nosso país, para que a gente possa ter a certeza de que os nossos filhos irão herdar um Brasil muito mais digno do que aquele que nós herdamos dos nossos pais. E nós não temos que ter medo das reformas. Na vida, de quando em quando, a gente descobre que tem coisas superadas, que tem coisas que, no começo, eram maravilhosas.



Mas o tempo se encarregou de defasá-las e nós precisamos ter competência para modernizar aquilo que já não é mais o modelo ideal, seja de tributo, seja de relações trabalhistas, de estrutura sindical e de qualquer outro assunto.



É por isso que, durante a campanha ? estão aqui vários Deputados ? eu assumi um compromisso. E eu disse, publicamente, que somente eu teria condições de fazer as reformas. Porque, para fazer as reformas você tem que ter relações com todos os Deputados, com todos os Partidos, com todos os Governadores mas, sobretudo, você tem que ter vontade política e coragem para enfrentar aqueles que se colocarão contra as reformas.



Eu faço questão, meus companheiros e companheiras, de lembrar, todo santo dia, cada palavra que eu falei durante toda a campanha eleitoral. Eu tento não me esquecer de cada compromisso que eu assumi durante a campanha. E isso aqui, Mané, eu sei que é um grande projeto.



Eu sei que é preciso garantir às famílias que estão produzindo a certeza de que vão produzir e terão aqueles que irão comprar deles, porque, se não tiver mercado, o Estado compra para utilizar no Projeto Fome Zero. Para isso, o Ministério da Fome está destinando praticamente 400 milhões de reais. Sei que esse povo precisa de mais terra, Mané.



Agora, o Governador, eu, os Prefeitos, o Ministro Humberto Costa, o Ministro Rossetto, o Ministro Graziano e os Deputados que estão todos aqui ? é uma lista imensa de Deputados, eu ia ler os nomes, mas isso ia tomar todo o tempo do meu discurso ? já visitamos uma casa. Uma companheira chamada Elizabete, com o seu marido, sete filhos e apenas duas tarefas para plantar. Ou seja, é quase nada.



Às vezes, andando pelo Brasil, a gente vai visitar determinados cemitérios. Há túmulos de ricos que têm mais de duas tarefas só de granito. E o coitado do lavrador, com duas tarefas. Depois, eu encontrei um mais pobre ainda, que só tem uma tarefa.



E vocês sabem que, com uma tarefa, as pessoas não podem fazer absolutamente nada. Mas fazer a Reforma Agrária, para nós ? e está aqui o Ministro que vai coordenar esse processo ? não é tirar miseráveis da cidade para torná-los miseráveis no campo. É tentar tirá-los da cidade e torná-los cidadãos dignos no campo, porque, na hora em que estiverem assentados, têm que produzir, têm que ganhar dinheiro, têm que produzir para vender no mercado.



E essa é tarefa que o Governo tem que assumir, porque o assentamento, Mané ? e você tem experiência ? pressupõe a terra, mas pressupõe assistência técnica, pressupõe seguro agrícola, pressupõe financiamento e pressupõe até garantia de preço, para que o produtor não fique à mercê da especulação.



Portanto, é um trabalho mais sério. A gente não quer uma pitomba de má qualidade. A gente quer plantar e irrigar, para que, ao crescer, a pitomba seja frondosa. Não queremos o trabalhador no campo vivendo de cesta básica.



Não queremos o trabalhador no campo vivendo de esmolas. Nós precisamos ajudá-lo a produzir, a trabalhar. Por isso, eu dizia durante a campanha: ?não tenho dúvida nenhuma de que, se eu não fizer pelo Nordeste, os outros que concorreram comigo não fariam pelo Nordeste?.



A minha mãe saiu de Garanhuns, eu tinha sete anos de idade. E a razão pela qual ela saiu é a mesma seca da qual, hoje, eu ouço todos os Prefeitos falarem, ouço todos os lavradores falarem.



E é lógico que aqui não tem nenhum deus para enfrentar a seca, porque a seca é um fenômeno da natureza. Agora, a fome causada por conta da seca é falta de vergonha de quem governou este país durante os últimos 500 anos.



Nós, certamente, Jarbas, não conseguiremos fazer tudo em quatro anos, mas podem ter certeza de que irei dedicar grande parte do meu tempo para tentar encontrar uma solução para o Nordeste brasileiro. Quando eu tinha sete anos de idade, Jarbas, fui buscar água com um caçuá num açude.



E era uma jumenta de um padrinho meu. A ?desgramada? me derrubou e quase me comeu. E, ainda hoje, a gente percebe que no Nordeste inteiro as pessoas passam a mesma privação.



É pegando água num açude, que vai mais lama e caramujo do que água. Bota num pote, deixa assentar, tira com uma caneca, bota em outro pote, mas, ainda assim, faltam muitos potes para a gente fazer com que essa água seja realmente potável.



É por isso que, quando cheguei em São Paulo, só tinha barriga e língua, de tão barrigudinho de tomar água de açude, com esquistossomose, Jarbas. E, lamentavelmente, ainda hoje, em muitos lugares do Nordeste brasileiro, isso acontece.



E não tem solução para um Governador sozinho, não tem solução para um Prefeito sozinho e não tem solução para um Presidente sozinho. Ou todos nós assumimos a responsabilidade de deixar as nossas divergências para a época das eleições, e governar juntos este país, ou não haverá solução para este país. E eu vou contar para vocês algumas coisas importantes.



Aqui está o Deputado Armando Monteiro Neto, que é o Presidente da CNI. Vejam que coisa impossível. Quem é que imaginava o Jair Meneghelli ser Presidente do SESI. O Meneghelli é Presidente do Conselho do SESI, o Armando é Presidente da CNI. E o SESI é o instrumento da CNI. Pois bem, o SESI, a CNI e o Ministério da Educação acabam de firmar um convênio. E o SESI e a CNI vão se responsabilizar de, em três anos, alfabetizar 2 milhões de adolescentes neste país. Nós temos tido surpresas extraordinárias com pessoas que querem colaborar, que querem participar.



Eu, Jarbas, vou lhe dizer uma coisa, meu caro Governador: tem um projeto de transposição das águas do Rio São Francisco desde 1847. O Lula não tinha nem nascido, e nem você, e esse projeto já estava aí. Nas campanhas das quais participei, Jarbas, eu recebi até documento de repúdio à minha pessoa, na Paraíba.



A Assembléia Legislativa do Ceará assinou documento me repudiando, porque eu me negava a dizer que era favorável à transposição sem antes pensar em como recuperar o ?velho Chico?, que a irresponsabilidade dos homens o está matando, matando seus afluentes, matando as matas ciliares.



Pois bem, eu sempre me recusei a assumir o compromisso de fazer a transposição. E outros candidatos a Presidente chegavam em Pernambuco e eram favoráveis, porque Pernambuco precisa. Chegavam na Paraíba e eram favoráveis, porque a Paraíba precisa. Chegavam no Ceará e eram favoráveis, porque o Ceará precisa. Chegavam no Rio Grande do Norte e eram favoráveis.



Quando chegavam na Bahia eram contra, porque o Governo era contra. Quando chegavam em Sergipe eram contra, porque o Governo de Sergipe era contra. Como eu não nasci com duas caras, só com uma cara, eu disse aos companheiros, ontem: ?eu nunca fiz promessas, mas aguardem?.



Porque, se houver transposição neste país, vai ser exatamente no meu Governo. Sabem por quê? Porque eu sei o que é a seca. Eu sei o que é o sofrimento causado a mulheres, homens e crianças por causa da seca. E eu sei que o Nordeste precisa de água. E nós vamos fazer não apenas um estudo profundo sobre a transposição.



Nós vamos fazer um estudo profundo de como recuperar alguns rios, que hoje já quase não têm água, mas que, na época do inverno, enchem e não têm pequenas barragens para que essa água fique represada. Vamos estudar, neste Nordeste, quais os rios nos quais a gente pode fazer pequenas barragens, para que a gente possa armazenar água e as pessoas possam ter água mais alguns meses por ano.



Eu fui na Barragem de Serrinha, oito meses depois que o Presidente Fernando Henrique Cardoso inaugurou ? oito meses depois. E li as matérias dos jornais de Pernambuco. Aí, diziam assim: ?



Porque, agora, não haverá mais seca em Serra Talhada. Porque agora vai ter não sei o quê em Serra Talhada?. Não tem um pé de urtiga irrigado.



Não tem um pé. E quem tem que fazer isso é o Governo Federal. Porque é da sua responsabilidade fazer a política agrícola nacional. E, para fazer irrigação, é preciso energia, encanamentos.



E é preciso que haja financiamento. O que não dá é para você fazer uma represa daquele tamanho e deixar a água armazenada para o sol bebê-la. Porque o sol está bebendo, acho, quase uns 30% daquela água.



Então, vamos realizar, em volta daquela represa, quem sabe, fazer, Jarbas ? eu me comprometo que o Miguel Rosseto virá aqui, com o seu Secretário ?um estudo para ver o que pode ser feito ali, próximo, para tornar as pessoas produtivas e a vida menos sofrível do que nós temos hoje.



Tem uma outra coisa aqui, no meu querido Nordeste, sobre a qual eu fico pensando. Eu olho na cara das pessoas e vejo que, muitas vezes, nós, nordestinos, somos tratados como se fôssemos de segunda categoria. Muitas vezes. E eu fui vítima disso durante a vida inteira.



Mas também é verdade que o nordestino que é nordestino não tem que baixar a cabeça nunca. Também é verdade que o sofrimento que nós temos nos dá mais garra, nos dá mais disposição de lutar e nos dá mais certeza de que a gente vai vencer. Se eu saí de Garanhuns ?



hoje, a minha cidade é Caetés, mas, naquele tempo, era Garanhuns ? e consegui virar Presidente da República, porque não posso garantir que vocês vão voltar a produzir, que a gente vai alfabetizar esse povo, que a gente vai gerar empregos neste país? Por que a gente não pode garantir?.



Buíque, Prefeito, é uma cidade que tem muita gente analfabeta. E nenhum país do mundo vai para a frente se o povo não souber ler e escrever. Quero assumir um compromisso com você, Prefeito: nos próximos dias, virá aqui, nesta cidade, o Ministro da Educação, que também é pernambucano, que foi Governador de Brasília, quem sabe, para discutir com os Prefeitos da região como fazer para que a gente, no menor espaço de tempo, possa alfabetizar esses milhões de nordestinos que precisam ser alfabetizados.



Esse projeto que estamos lançando agora é apenas um começo. Aquilo que falou o Graziano e aquilo que falou o Rossetto: é apenas o começo de quem tem apenas 110 dias de Governo.



E quero dizer para vocês, olhando na cara de cada criança, de cada mulher: não quero passar para a História deste país como um Presidente cujo único feito foi o de ter uma fotografia sua pendurada no salão nobre do Palácio. Eu não quero. Sei muito bem onde quero chegar. Sei muito bem os passos que quero dar. E sei muito bem o que tem que ser feito neste país. E vou fazer.



Podem ficar certos de que nós vamos fazer. Quando vocês estiverem mais desanimados, quando vocês estiverem mais desacreditados, peço a vocês: pelo amor de Deus, levantem a cabeça e acreditem. Acreditem que a nossa disposição vai mudar este país. Este país não pode continuar sendo tratado como se fosse um país insignificante.



As autoridades brasileiras precisam ser respeitadas lá fora. Este povo não pode ser tratado como um povo de segunda categoria. Estive com a Volkswagen e com a Mercedes Benz e estive com várias empresas japonesas. O que me dá mais orgulho é quando um empresário estrangeiro me diz: ?



Presidente Lula, os trabalhadores brasileiros são melhores do que qualquer outro trabalhador, em qualquer outra parte do mundo, porque não tem tarefa difícil para esses trabalhadores?.



Então, fico imaginando: no dia em que as nossas crianças comerem, no dia em que as nossas crianças estudarem, no dia em que os nossos adolescentes tiverem formação profissional, o quanto este país poderá ter de crescimento. E quero te dizer, Jarbas, a você, ao João Paulo, Prefeito de Recife, aos Prefeitos de todas as cidades: não quero saber a que partido vocês pertencem.



Não quero saber qual a religião que vocês comungam. O que quero saber é que vocês têm responsabilidades públicas tanto quanto eu tenho. E, por isso, podem ficar certos de que não medirei um esforço para poder bater na sua porta quando precisar que o Governo de Pernambuco ajude o Governo Federal na execução das suas políticas.



E os prefeitos, também, do mesmo jeito, porque não tenho tempo de arrumar inimigo. Quero é construir mais amigos, porque o povo brasileiro está cansado de sofrer, está cansado de promessas e está cansado de esperar.



Por isso, meu caro Prefeito, muito obrigado pela recepção. E, se isso aqui vai ser transformado em uma feira, agora com seguro-safra, podem ficar certos de que vai ter muita barraca aqui, muita gente vendendo e muita gente comprando.



Que Deus abençoe a vocês e que Deus possa permitir que, daqui a algum tempo, eu volte a esta região para a gente ver os resultados do programa que estamos lançando hoje. Até outro dia, se Deus assim o permitir."

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