Comunicação e Internet
por Thiago Cassini Quem imaginou que iria começar a ler sobre os prós e contras do uso das novas tecnologias na escola se enganou. Muitos textos que temos lido vão nessa direção. No entanto, as dúvidas e desafios dos educadores não se referem ao uso dessa ou daquela tecnologia, e sim a posturas e paradigmas de comunicação. Vamos entender por que, ao começarmos nossa conversa falando um pouco sobre COMUNICAÇÃO, essa maravilhosa capacidade do ser humano de elaborar e expressar seus pensamentos e sentimentos em sons, palavras, desenhos, gestos e outras formas…
Quem já parou para pensar no modelo de comunicação que já experimentou na escola ou em casa? E no modelo de comunicação em que estamos inseridos ao entrarmos em contato com a televisão, o jornal, o rádio?
Pois é, para quem ainda não refletiu sobre isso, este é o momento… Segundo estudos teóricos da comunicação, a maioria dos processos de comunicacionais do nosso cotidiano é denominado modelo de comunicação em estrela (a imagem é sugestiva). Nesse modelo, trabalha-se com um único emissor e diversos receptores.
Do ponto de vista comunicacional, a própria escola surgiu baseada no modelo de comunicação em estrela (um único emissor e diversos receptores): disciplinas compartimentadas, campos delimitados, aprendizagem individual com pouca ou nenhuma negociação de sentido. O professor desempenhava o papel de emissor da informação e o aluno o de receptor.
É importante mencionar que o paradigma da comunicação não se baseia, exclusivamente, no meio em si, mas sim do uso que se faz desses meios. Por exemplo, as ações decorrentes do uso da fala, do livro, do giz, da televisão, do rádio, do computador é que definem qual é o paradigma da comunicação que está em jogo. O filósofo francês Michel Sèrres afirma que “As novas tecnologias não trazem novos desafios à Educação”. Segundo Sèrres, os desafios que a escola de hoje enfrenta são antigos e independem das tecnologias.
Dessa forma, podemos considerar que um dos grandes desafios da escola, mais do que utilizar tal ou qual recurso tecnológico, é derrubar o paradigma da comunicação em estrela. Esse movimento já pôde ser observado no final do século XIX, quando alguns educadores começaram a usar métodos e concepções baseados na interação e negociação de sentido, independentemente das tecnologias que dispunham em seu cotidiano.
Um exemplo é o educador francês Celestièn Freinet, que no início do século XX defendia uma escola centrada na criança, considerada como parte de uma comunidade. Em sua metodologia, as crianças aprendiam a Técnica de Impressão, introduzida pelo educador, com a qual reproduziam textos elaborados pelos próprios alunos. Nesse tipo de atividade, prevalecia o espírito cooperativo, e os trabalhos eram apresentados, discutidos e impressos pelas crianças. Os textos eram agrupados com o objetivo de criar um Diário de Classe e um Jornal Escolar.
Podemos dizer que posturas educativas como a de Freinet estão relacionadas a outro modelo comunicacional, o de comunicação em rede (a imagem também é sugestiva). Neste modelo, trabalha-se com muitos pontos interligados, e todos são emissores e receptores de informação.
As invenções do século XIX e XX na área de tecnologias de comunicação e de informação criaram um cotidiano permeado de novas linguagens e de novas possibilidades de comunicação. Vimos o surgimento do computador pessoal (PC), da conexão de vários computadores a um servidor (Intranets) e da rede mundial de computadores, a Internet, que, desde a década de 90, com a popularização da World Wide Web (WWW), vem ganhando grande espaço em nossas vidas.
O mundo de hoje requer do jovem (e de todos nós) a capacidade de se comunicar com um número cada vez maior de pessoas, de processar dados e informações em maior quantidade e com mais velocidade. O crescente acesso aos meios de comunicação também possibilita que a produção e a emissão das informações sejam feitas por mais atores. Vemos o crescimento de canais de televisão, da produção de vídeos, das rádios educativas, de jornais locais…
E é neste ponto que a Internet vem facilitar, de forma extraordinária, o aumento da diversificação dos pontos emissores de informação. Segundo o paradigma da comunicação em rede, a própria estrutura do conhecimento e o modo como a escola trabalhava devem ser questionados.
Hoje já se observa que a abordagem apenas por disciplinas vem perdendo força em relação a abordagens interdisciplinares, que se mostram mais capazes de responder ao modo de criar significados de uma geração que convive com o paradigma de comunicação em rede. A integração das disciplinas favorece que os processos de aprendizagem levem os alunos a se envolverem mais em projetos de estudo com interfaces múltiplas e produção de resultados.
Nesse contexto, a Internet tem se mostrado um meio propício para a efetivação do modelo de comunicação em rede, uma vez que o educador pode:
•Utilizar o computador conectado à rede como um recurso para o seu desenvolvimento pessoal, ao buscar sua própria formação continuada e conteúdos de seu interesse.
•Integrar comunidades virtuais de troca e de aprendizagem, partilhando informações com outros educadores.
•Construir roteiros de atividades para seus alunos a partir de hipertextos e da seleção, recorte, organização e edição de informações coletadas na rede.
•Avaliar o desenvolvimento do aluno, acompanhando o processo de construção do conhecimento a partir de roteiros cognitivos orientados pelo professor ou definidos pelo aluno (por exemplo, com o registro dos caminhos de busca e pesquisa em sites e sua posterior problematização ou com o processo de construção de um texto).
•Publicar na Web produções dos alunos e educadores, ficando disponíveis, gratuitamente, para o acesso de qualquer parte do mundo.
Por fim, outro aspecto bastante simples, mas muito importante, e que a escola não pode ignorar, é o interesse que os alunos têm em manipular e explorar o ciberespaço. Para a escola, que há tanto tempo reclama da falta de interesse dos alunos, está aí uma oportunidade de reverter esse quadro. O educador que conseguir encarar a Internet como sua aliada, estará à frente daqueles que a encaram como um problema.
(*) Mílada T. Gonçalves é pesquisadora do CENPEC e da Equipe do Portal EducaRede
FONTE DE INFORMAÇÃO: TOP BLOG
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