Se até uma criança vê, imagine
a mídia internacional que percebe o partidarismo de Moro
Os principais veículos jornalísticos do mundo
listam nesta quarta-feira, dia da condenação de Lula, as grandes conquistas do
ex-presidente enquanto governou o Brasil.
O britânico “The Guardian” destaca que Lula
saiu da pobreza na infância para se tornar presidente da República duas vezes,
sendo agora condenado no primeiro de cinco inquéritos.
Cita a sentença como um grande abalo para o
“primeiro presidente da classe trabalhadora, que deixou o governo seis anos
atrás com 83% de aprovação”
O jornal menciona que “o ex-líder sindical
obteve admiração global por suas políticas de transformação social que ajudaram
a reduzir a grande desigual social do maior país da América Latina”. Lembra
também que Barack Obama se referia a Lula como o político mais popular da
Terra.
A publicação britânica informa que a defesa
já havia dito que apelaria de qualquer decisão, tendo afirmado continuamente
que uma condenação seria perseguição partidária e que Moro é enviesado e motivado
a condenar Lula por razões políticas. Moro nega as acusações, como o fez no
início do depoimento prestado por Lula.
O “The Guardian” aponta também que a senadora
Gleisi Hoffmann, presidente do partido, afirmou que a condenação serve para
impedi-lo de se candidatar à presidência no ano que vem. E que o partido
protestaria contra a decisão, confiante numa reversão da sentença.
O principal jornal do Reino Unido também
observa que, apesar da condenação e outras acusações contra Lula, ele permanece
como a figura mais popular entre os eleitores brasileiros, de acordo com as
pesquisas recentes, e que ele manifestou querer concorrer novamente ao Palácio
do Planalto ano que vem.
A expectativa do veredito de um recurso seria
de oito meses, aponta a publicação. Analistas políticos ouvidos pelo jornal,
dizem que a esquerda estará arrasada se Lula não puder se candidatar, tendo que
encontrar uma nova liderança “sob a sombra que Lula deixou na política
brasileira pelas últimas três décadas”. “A ausência de Lula abre um imenso
vazio na cena política, o que cria um enorme vácuo na esquerda. Entramos agora
numa situação de extrema tensão política, além de todo o caos que estivemos
vivendo no ano passado”, disse o professor da FGV Cláudio Couto ao Guardian.
O periódico cita que os dois mandatos de Lula
foram marcados por um “boom” nas commodities, fazendo do Brasil uma das
economias que cresciam mais rápido no mundo, com “políticas externas
ambiciosas”, alinhando o país a outras grandes nações em desenvolvimento e inseriu
o Brasil no cenário mundial.
Com Lula, aponta o The Guardian, o Brasil
contestou a política hegemônica do norte, engajando-se em problemas globais
como a paz no Oriente Médio e o programa nuclear do Irã. Por outro lado, cita
que com a saída de Lula e a eleição de sua sucessora, Dilma Rousseff, a
economia do país piorou, com a nação agora começando a se emergir de sua pior
recessão.
A presidente, cita ainda o jornal, foi
derrubada “por quebra de regras orçamentárias”, sendo que ela e seus apoiadores
dizem que sua queda foi, na verdade, um golpe orquestrado pelo vice e agora
presidente Michel Temer, que enfrenta acusações de corrupção. O próprio The
Guardian, em outros momentos, se referiu ao processo de impeachment como
“dúbio”.
Durante o julgamento de Lula, cita o diário,
o ex-presidente alegou sua inocência e que foi por sua política e não desvio de
dinheiro público que ele está sendo julgado. “Mas o que acontece não me
deprime, me motiva a ir além e falar mais. Vou continuar lutando”, disse Lula.
O francês “Le Monde” destaca a condenação,
referindo-se a Lula como “ícone da esquerda” e lembrando que o ex-presidente
permanecerá em liberdade enquanto houver possibilidade de recursos. Diz que a
condenação complica suas chances de concorrer à presidência e que, apesar de
alta rejeição, ele está no topo das intenções de voto.
O espanhol “El País” observa que, no ano
passado, após o processo de impeachment, Lula se apresentava como salvação para
o Brasil, em meio aos seus favoráveis resultados eleitorais, mas que logo o
Ministério Público começou a apresentar denúncias contra ele. E que ele apelava
para a emoção de seus seguidores contra a perseguição que sofria.
O “The New York Times” fala do ex-presidente
como alguém “que teve enorme influência na América Latina por décadas”. O
norte-americano também aponta as afirmações de Lula de que as acusações contra
ele são uma “farsa”. E cita que o juiz Sergio Moro disse que as ações de Lula
eram parte de um sistêmico esquema de corrupção: “O presidente da República tem
enormes responsabilidades”. “‘Desse modo, sua responsabilidade’ é norme”.
Como o The Guardian, The New York Times
também menciona o grande crescimento econômico durante os governos Lula,
creditado como uma liderança que retirou da pobreza milhões de pessoas “numa
das nações com maior desigualdade entre ricos e pobres no mundo”.
“Moro disse que Lula tentou intimidar a
corte, o que o juiz argumentou que seria motivo para prendê-lo imediatamente.
Mas, Moro escreveu ainda que achou ‘prudente’ deixar Lula permanecer livre para
recorrer. Prendê-lo seria ‘traumático’, escreveu (o juiz)”, cita o jornal
norte-americano.
A correspondente da BBC em São Paulo, Katy
Watson, diz que Lula permanece um político popular e que a sentença vai dividir
profundamente o Brasil.
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