100 Milhões por 100 Milhões: campanha global pelo
fim do trabalho infantil e contra toda forma de exploração é lançada no Brasil
No dia 12/06, será realizado em Brasília o lançamento da campanha 100
Milhões por 100 Milhões, uma iniciativa global do Nobel da Paz, Kailash
Satyarthi, coordenada no Brasil pela Campanha Nacional pelo Direito à Educação,
com parceria temática do Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do
Trabalho Infantil
No Dia Mundial e Nacional contra o Trabalho Infantil, 12/06, será
lançada, no Museu Nacional em Brasília, a campanha 100 Milhões por 100
Milhões. A campanha é uma iniciativa global do Nobel da Paz, Kailash Satyarthi,
coordenada no Brasil pela Campanha Nacional pelo Direito à Educação, com
parceria temática do Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho
Infantil (FNPETI). A iniciativa foi lançada globalmente no “Laureates and
Leaders for Children Summit 2016”, em Nova Delhi, na Índia, em dezembro de
2016, com a presença de líderes de todo mundo.
“O objetivo da nova campanha, idealizada por Kailash, é mobilizar 100
milhões de pessoas, estimulando especialmente os jovens, para lutar pelos
direitos de 100 milhões de crianças que vivem na extrema pobreza, sem acesso à
saúde, educação e alimentação, em situação de trabalho infantil e completa
insegurança. Será um grande chamamento intersetorial, com forte participação da
juventude, envolvendo representantes de diferentes setores unidos para combater
todas essas formas de exploração. A vinda do Nobel ao Brasil para o lançamento
é um marco global e representa apenas o começo de uma mobilização muito grande
nacional“, afirmou Daniel Cara, que participou do evento de lançamento na Índia
e será o coordenador da campanha e a Campanha Nacional pelo Direito à
Educação será a organização que liderará essa mobilização.
Kailash Satyarthi virá ao Brasil especialmente para o lançamento da
iniciativa que envolverá no país e no mundo diversas organizações e pessoas que
atuam pelos direitos das crianças, de forma transversal e em intersetorialidade
(saúde, assistência social, educação), no combate à pobreza, vulnerabilidade
social, e trabalho infantil. A participação ativa da juventude será a grande
marca da iniciativa no Brasil, com a adolescentes e jovens envolvidos não
só na mobilização, mas também no desenvolvimento das estratégias de coordenação
e mobilização em todo o Brasil.
A agenda de lançamento da iniciativa também contará com audiências
públicas na Câmara dos Deputados, no Senado Federal, Exposição Fotográfica do
Ministério Público do Trabalho intitulada #ChegaDeTrabalhoInfantil e uma roda
de conversa com a participação do Nobel da Paz com estudantes e comunidade
escolar. A vinda de Kailash marcará o início de uma estratégia de mobilização
nacional de longo prazo. Todas as informações de como se envolver e participar estarão
em breve disponíveis em: 100milhoes.org.br
Cenário do trabalho infantil e da exploração de crianças e adolescentes
no Brasil
- O trabalho infantil é proibido no
Brasil pela Constituição Federal de 1988. Ainda assim, 2,7 milhões de
crianças e adolescentes brasileiros estão em situação de trabalho, de
acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2015. O
número equivale a toda a população da Jamaica e representa 5% do total de
brasileiros de 5 a 17 anos. Em 2014, eram 3,3 milhões.
- A tendência de queda nos índices
de trabalho infantil está em risco devido ao crescimento entre a população
de 5 a 9 anos por três anos seguidos e na agricultura.
- Em 2015, foram registrados 79 mil
casos entre crianças de 5 a 9 anos, 12,3% a mais que em 2014, quando havia
70 mil crianças nesta faixa trabalhando. Em 2013, eram 61 mil. O aumento é
inaceitável e preocupante, na avaliação do FNPETI.
- A Pnad registrou também elevação
do percentual de crianças de 5 a 13 anos ocupadas em atividades agrícolas,
de 62% para 64,7% entre 2014 e 2015.
- Caso a redução se mantenha no
ritmo atual, o Brasil não conseguirá cumprir a meta dos Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável da ONU de eliminar todas as formas de trabalho
infantil até 2025.
- O Brasil também não foi capaz de
cumprir a meta de eliminar as piores formas de trabalho infantil em 2016,
compromisso firmado com a Organização Internacional do Trabalho (OIT) em
2006 e reforçado na Conferência de Haia, em 2010.
- A exploração sexual é considerada
uma das piores formas de trabalho infantil. Por ocorrer de maneira
ilícita, tem pouca visibilidade e torna-se difícil de ser quantificada.
Trata-se de crime hediondo, com pena de 4 a 10 anos de prisão, a ser
cumprida em regime fechado e sem fiança. A maioria das vítimas são
meninas.
- O trabalho infantil doméstico
também é uma das piores formas. Mais de 90% das exploradas são meninas e
cumprem dupla jornada. 83,1% também realizam afazeres domésticos nas
próprias casas. O baixo rendimento escolar, o abandono dos estudos,
adoecimentos e acidentes de trabalho são algumas das consequências desse
excesso de atividades.
- Todas as piores formas de trabalho
infantil estão explicitadas no Decreto 6481/2008.
- O trabalho infantil pode causar
graves danos à saúde. Desde 2007, 38.257 mil crianças e adolescentes
sofreram algum tipo de acidente enquanto trabalhavam. Desses, 23.100 foram
graves, o que inclui amputação de mãos e braços, e 208 morreram. Os dados
são do Departamento de Vigilância em Saúde Ambiental e Saúde do
Trabalhador do Ministério da Saúde.
- A idade mínima para o trabalho no
Brasil é 16 anos. Abaixo dos 18 anos, é proibido o trabalho noturno,
perigoso e degradante. A única exceção é para a aprendizagem, que pode
ocorrer a partir dos 14 anos. Para ser aprendiz, o adolescente precisa
frequentar a escola e ter bom rendimento.
- A garantia da educação de
qualidade até os 17 anos é fundamental para erradicar o trabalho infantil
e outras formas de exploração de crianças e adolescentes.
Exclusão escolar e violações ao direito à educação
- No Brasil, 2,8 milhões de crianças
e adolescentes de 4 a 17 anos estão fora da escola, segundo a Pesquisa Nacional
por Amostra de Domicílios (Pnad) 2015.
- A exclusão escolar afeta
principalmente meninos e meninas das camadas mais vulneráveis da
população, já privados de outros direitos constitucionais. Do total fora
da escola, 53% vivem em domicílios com renda per capita de até ½ salário
mínimo.
Fonte: IBGE (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2015) - Atualmente, o Brasil apresenta uma
taxa de 19% de distorção idade-série no ensino fundamental. No ensino
médio, essa taxa de distorção chega a 27%. É essa a faixa etária de
transição para a idade adulta e esses adolescentes ingressam no mundo do
trabalho em condições precárias.
Fonte: IBGE (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2015) - Em razão das dificuldades
econômicas, muitas crianças acabam deixando a escola para trabalhar e
ajudar na renda familiar ou mesmo para cuidar dos serviços domésticos,
liberando suas mães para o trabalho remunerado.
Fonte: Fora da Escola Não Pode!: Campanha Nacional pelo Direito à Educação e Unicef - Além de tirar as crianças da
escola, o trabalho afeta seu rendimento escolar, que é inferior ao das
crianças que só estudam. Por isso, também são maiores entre as crianças
trabalhadoras as taxas de repetência e de abandono.
Fonte: Fora da Escola Não Pode!: Campanha Nacional pelo Direito à Educação e Unicef | PISA/OCDE - Nenhuma das metas e estratégias do
Plano Nacional de Educação com prazo para 2015, 2016, e 2017 foram
cumpridas. As estratégias 20.6 e 20.9, de implementação do Custo
Aluno-Qualidade Inicial (CAQi) e de regulamentação do Sistema Nacional de
Educação (SNE), respectivamente, não foram cumpridas até 2016, em seu
prazo. A estratégia 20.8, de definição do Custo Aluno-Qualidade (CAQ)
também não foi cumprida até 2017.
- Apenas 0,6% das escolas
brasileiras possuem insumos de qualidade previstos no mecanismo do Custo
Aluno-Qualidade Inicial (CAQi), criado pela Campanha Nacional pelo Direito
à Educação, ou seja, 98,4% das escolas funcionam abaixo do nível de
dignidade de um padrão mínimo de qualidade.
Fonte: NETO, DE JESUS, KARINO, DE ANDRADE. Uma escala para medir a infraestrutura escolar. (http://www.fcc.org.br/pesquisa/publicacoes/eae/arquivos/1786/1786.pdf) - 17,6% da população com 15 anos ou
mais é analfabeta funcional.
Fonte: IBGE (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2015)
Pobreza, exploração e violência contra crianças e adolescentes
- Aproximadamente 55 milhões de
pessoas vivem em situação de pobreza no Brasil, sendo que 18 milhões deste
total se encontram em situação de extrema pobreza. Dentre as pessoas entre
0 e 14 anos em situação domiciliar de baixa renda, 17,3 milhões
(40,2%) são pobres e 5,8 milhões (13,5%) são extremamente pobres.
Fonte: IBGE (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2015) - Foram registradas 150 mil crianças
de 0 a 5 anos em situação de desnutrição em 2016.
Fonte: Ministério da Saúde /Datasus/Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (Sisvan 2016) - No ano de 2015, mais de 56 mil
mortes por homicídios foram notificadas no Sistema de Informações sobre
Mortalidade (SIM) do Brasil. Pouco mais de 80% dos homicídios de crianças
e jovens entre 0 e 19 anos foram cometidos com armas de fogo em 2015. A
Região Nordeste concentra a maior proporção de homicídios de crianças e
jovens por armas de fogo e supera a proporção nacional em 5,4 pontos
percentuais.
Fonte: MS/SVS/CGIAE/ Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) - Em 2015, o Disque 100 recebeu mais
de 153 mil denúncias de violações de direitos contra crianças e
adolescentes em todo o país, sendo 45,7% por violência física ou
psicológica, 37,9% delas por negligência, e 13% por violência sexual.
Fonte: Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República – Balanço Geral – Disque 100 (2015) - Em 2015, foram 546.537 nascimentos
de mães entre 0 e 19 anos, sendo 26.629 deles de mães entre 10 e 14 anos e
8 de mães menores de 10 anos.
Fonte: MS/SVS/DASIS/ Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc 2015)
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