O ETERNO PAÍS DO FUTEBOL E DO FUTURO QUE NÃO CHEGA
Por Marcos Morita
Como
todo menino brasileiro, sempre gostei de futebol e principalmente de
Copa do Mundo. Colecionava as figurinhas um tanto toscas com as fotos
dos jogadores, as quais acompanhavam os chicletes Ping Pong de
tutti-frutti, hortelã e morango. Para agilizar a coleção costumávamos
mascar várias gomas disputando quem fazia a maior bola, ou então batendo
figurinha na entrada ou saída da escola, já que lá dentro era risco de
perdê-las na certa. Chegar em casa, colá-las com cola Tenaz e preencher
uma página inteira era a recompensa suprema.
A
Copa que mais curti, acredito que cada um tenha a sua preferida, foi a
de 82 na Espanha. Pela primeira vez pude torcer com os amigos fora de
casa, tomando Guaraná e Coca-Cola à
vontade, comendo pipoca e carregando minha bandeira improvisada. Como
sou palmeirense, pintei a faixa branca de amarelo. Valia de tudo para a
brincadeira estar completa. Valdir Peres, Oscar, Toninho Cerezo, Falcão,
Sócrates, Zico e Éder, só para citar alguns, eram os grandes ídolos e
Paolo Rossi, o grande vilão, despachando uma das melhores seleções que
já tivemos.
Também
sempre sonhava com uma Copa no Brasil, o que naquela época era algo
impossível. Oito edições se passaram assim como a idade e os cabelos
brancos. Agora serão os sobrinhos e filhos que poderão curtir a
competição e aproveitar o tão desejado torneio em solo tupiniquim. Opa,
mas espere um pouco. Tão desejado? Escândalos, superfaturamento,
corrupção, desvio de recursos, atraso nas obras e os protestos do ano
passado conseguiram tirar meu sonho de menino. Pesquisa realizada pelo
Datafolha demonstra que a aprovação caiu de 79% para 52%, confirmando
que não estou sozinho.
Como
professor e executivo tinha esperança que os grandes eventos poderiam
gerar crescimento econômico sustentável pelo menos até o final da
década, levando de vez nosso titulo de pais do futuro. Ledo engano,
comprovado nas manchetes e notícias
econômicas. Ao contrário, sua aproximação, aliada ao Carnaval tardio e
as eleições para governador e presidente em novembro tem trazido extrema
preocupação aos empresários e colaboradores, os quais terão que
trabalhar muito para tentar ao menos igualar os resultados do ano
passado, o qual já foi bastante ruim.
Tomemos São Paulo como exemplo. Feriados nos dias 12, 17, 19, 23 e 26 de junho
ou 5ª, 3ª, 5ª, 2ª e 5ª, sem mencionar as pontes e ressacas
pós-feriados. O mesmo ocorrerá nas demais cidades-sede, cujas datas se
repetirão apenas nos jogos da seleção canarinho. Será literalmente um
mês perdido, no qual agendar reuniões com fornecedores, visitar
clientes, viajar a negócios e faturar mercadorias será praticamente
impossível, excetuando-se os produtos de primeira necessidade tais como
linguiça, picanha, carvão, cerveja e pipoca, imprescindíveis para manter
a turma animada.
Para tentar mitigar este risco iminente,
planejamento, flexibilidade e negociação entre os membros do canal de
vendas: importadores, fornecedores, fabricantes, distribuidores,
atacadistas, varejistas, representes e consumidores finais, seja
antecipando a produção, agendando entregas, estocando distribuidores e
varejistas, efetivando promoções, efetuando manutenções preventivas,
estendendo prazos de pagamento e concedendo descontos, evitando o
corre-corre e o estresse de ultima hora.
Parodiando
a fábula de cigarra e da formiga, as empresas e os empresários terão
que trabalhar duro no verão e no outono, aguardando o inverno chegar. Se
lembra da cena da formiga em sua casa quentinha, com comida estocada
para toda a estação? Quanto as cigarras, continuarão cantando longe de
Brasília em seus currais eleitorais, promovendo-se ou aos seus aliados
até as eleições de novembro, após 52 dias de trabalho extenuantes no
primeiro semestre o que representa uma redução de mais de 70% em suas
atividades, definido por seu presidente de conduta ilibada, Renan
Calheiros.
Com esta fábula adaptada à realidade brasileira, as notícias
dos elefantes brancos em plena Amazônia ou no Pantanal e o legado que
não será legado, torna-se cada vez mais difícil encontrar motivação e
alegria para que esta seja a melhor Copa de todos os tempos, alardeada
pelos patrocinadores da seleção em suas propagandas ufanistas. Bons
tempos aqueles em que com espírito ingênuo, acreditava que poderíamos
dominar o mundo através da bola. E já que o evento será inevitável, o jeito será torcer e comprar o álbum da Copa, mesmo sem o bafo, o chiclete de tutti-frutti e a cola Tenaz.
Marcos Morita
é mestre em Administração de Empresas, professor da Universidade
Mackenzie e professor tutor da FGV-RJ. Especialista em estratégias
empresariais, é colunista, palestrante e consultor de negócios. Há mais
de quinze anos atua como executivo em empresas multinacionais.
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